Última alteração: 2022-10-24
Resumo Expandido (Entre 450 e 700 palavras)
O objetivo é identificar novos paradigmas de roteiro ditados pelos algoritmos de recomendação das plataformas de streaming, e que acreditamos devem se estender para o restante da produção audiovisual.
Considerando que hoje vivemos na chamada era do audiovisual de dados onde, como produtores de conteúdo e consumidores, estamos imersos, desejamos entender como lidar com as ferramentas de inteligência artificial que já existem e que de uma forma ou de outra aprovam e determinam o processo do roteiro (ou roteirização).
Seria possível controlar estes novos paradigmas e "hackear" a Netfix, antevendo o padrão do que a plataforma de streaming considera um sucesso?
Uma das maneiras recentes de se criticar um filme ou série é dizer que seu roteiro é algorítmico. Isso quer dizer que empresas poderosas como Amazon Prime e Netflix produziriam a partir de roteiros reduzidos a fórmulas, com entradas de dados e resultados previsíveis. Mas as “fórmulas” conhecidas pelo mercado audiovisual, através dos manuais de roteiro, seriam substituídas pela objetividade do Big Data - enormes quantidades de informações fornecidas pelo comportamento de usuários em interação com as plataformas de streaming.
Segundo CRUZ (2021): "a tática de se deixar levar pelos insights que seu algoritmo lhe proporciona sem dúvida é boa para a Netflix, pois ficou provado que isso se reflete em audiência fácil. Mas é ruim para produção cinematográfica como um todo. A sensação é de estar sempre preso em uma bolha de referências antigas que se retroalimentam, sem nunca entregar algo original (...) O sucesso de Rua do Medo mostra que, para o bem e para o mal, a influência dos algoritmos nas produções culturais veio para ficar. (CRUZ, 2021)
Hoje se discute muito a influência dos algoritmos no processo criativo do audiovisual e, de forma ampla, na virtualização de nossas vidas. Mas o que isso quer dizer? Os computadores da Netflix estão escrevendo séries? Ou são somente informações fornecidas por eles a quem toma as decisões? A Rede Globo (e seu serviço on demand, Globoplay) não usa estes mesmos dados? E, afinal, o que é um algoritmo?
A analogia com a receita culinária é recorrente em textos introdutórios sobre programação. Um autor que se vale de metáfora parecida, mas de uma maneira mais enfática, é KNUTH (1997). Analisando o exemplo do algoritmo euclidiano para se encontrar o maior divisor comum entre duas integrais positivas, o autor conclui: “O significado moderno para algoritmo é bastante semelhante ao de receita, processo, método, técnica, procedimento, rotina, rigmarole [complicação], exceto que a palavra "algoritmo" conota algo apenas um pouco diferente” (KNUTH, 1997, p. 4)
Em nossa pesquisa foi possível localizar dois pontos de inflexão, que introduzem e estabelecem a ideia de um roteiro algorítmico. O primeiro ponto é quando a Netflix decide produzir conteúdo original (no caso, contratando estúdios que então licenciavam o conteúdo para a empresa). O destaque desse momento é a produção da série House of Cards , em sua versão de 2013, dois anos após a contratação do chefe de conteúdo Ted Sarandos . O segundo momento de inflexão é quando a Netflix constrói seu próprio estúdio, no estado da Califórnia, EUA, assumindo todas as etapas da produção audiovisual, realizando em 2016 a série Stranger Things , série cujo roteiro foi comprado por Brian Wright, ex-vice-presidente sênior da Nickelodeon e agora subordinado à Sarandos (HASTING & MAYER, 2020, p. 41).
REFERÊNCIAS
BURROUGHS, B. (2018): House of Netflix: Streaming media and digital lore. EUA: Popular Communication – Routldge (Taylor & Francis Group).
CORRÊA, A. M (2019). Séries originais da Netflix: alterações na estrutura narrativa no contexto do binge-publishing. 196p. Dissertação (Mestrado em Comunicação Social)- Diretoria de Pós-Graduação e Pesquisa da Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, 2019.
CRUZ, F. B. (2021).Trilogia ‘Rua do Medo’: Netflix usa algoritmo para criar terror nostálgico. Disponível em: https://veja.abril.com.br/coluna/tela-plana/trilogia-rua-do-medo-netflix-usa-algoritmo-para-criar-terror-nostalgico/, Acesso em: 06 mar. 2021
HASTINGS, R; MEYER, E (2020). A Regra é Não Ter Regra- A Netflix e a Cultura da Reinvenção. RJ: Intrínseca
KNUTH, D. (1997). The Art of Computer Programming. VOL. 1 Fundamental Algortihms. Third Edition. EUA: Addyson – Wesley