Última alteração: 2022-10-31
Resumo Expandido (Entre 450 e 700 palavras)
O presente trabalho apresenta uma reflexão sobre a concepção de uma possível prática curatorial uchinanchu, apresentando como esta se estruturaria seguindo noções de curadoria nativa e curadoria compartilhada, respaldando-se no compartilhamento de saberes ancestrais e valores desta comunidade. Este processo não tem a intenção, obviamente, de retirar a autonomia destes artistas e deste povo, mas sim facilitar o processo de proposição dessas narrativas no espaço institucional do sistema das Artes. Este texto surge com o objetivo de conceber, através deste processo curatorial, a facilitação da construção de um espaço para as artes uchinanchu, tradicionais e contemporâneas, bem como sua divulgação e a superação de dificuldades que estes artistas encontram em levar sua ancestralidade para lugares externos à sua comunidade. Como é conhecido, a Arte é uma ferramenta de construção do repertório coletivo de uma sociedade, podendo desafiar e afirmar certas noções sociais, e, dentro dessa afirmativa, a prática curatorial serviria como uma forma de legitimação e validação de certas obras e certos artistas dentro deste sistema onde está inserida, além de que, a criação, montagem e elaboração de exposições podem ser enxergada nesse contexto como um método de produção de conhecimento. Para tanto, tais questões serão exploradas por meio de uma análise da curadoria da artista Hiromi Toma cujas obras se relacionam com o entendimento de feminilidade e papéis de gênero do povo uchinanchu, a exemplo da prática da hajichi (tatuagem) realizada somente por mulheres. Ou seja, é possível abordar as vivências uchinanchu, vivências que sistematicamente foram e são apagadas dos livros de história, da grande mídia, e também, das Artes Visuais, trazendo, consequentemente, a possibilidade de reescrita de uma História da Arte, e também da história que a arte pode contar, lembrando que o direito de manifestar a sua própria cultura é um dos princípios da justiça social. A responsabilidade que uma curadoria focada em tais questões leva é a de entender as particularidades, sejam elas antropológicas ou íntimas, de cada uma dessas obras, não fazendo uso desta arte como um recurso visual de representação temática generalizada, condensando essa produção a uma única característica identitária. A curadoria nativa surge aqui demonstrando como o processo de troca que acontece entre curador e artista pode ser amplificado quando ambas as partes compartilham um repertório cultural uchinanchu, que é coletivo, íntimo, teórico e artístico, facilitando em conjunto a construção de um olhar voltado para o entendimento e valorização destas artes, além do surgimento dessas narrativas contemporâneas poderem servir de revisão para as estruturas sociais que operam dentro da própria comunidade uchinanchu, e uchinanchu brasileira. É imprudente a noção de que só porque essa arte carrega referências ancestrais de sua cultura originária ela estaria presa no passado, podemos afirmar que a arte e cultura uchinanchu se reinventa, inclusive por necessidade de sobrevivência. Os caminhos que esses saberes atravessaram, temporal e geograficamente, provam o esforço dessa comunidade em firmar sua identidade cultural e a importância da presença dessas artes, não somente nos espaços institucionais da Arte, mas também no repertório coletivo decolonial do mundo real.
APRESENTAÇÃO