meistudies, 5º Congresso Internacional Media Ecology and Image Studies - A virtualização do novo ecossistema midiático

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Estruturas narrativas correspondentes entre Cinema e RPG (Role-Playing Game)
Vicente Gosciola, Eduarda Afecto Vilanova

Última alteração: 2022-10-27

Resumo Expandido (Entre 450 e 700 palavras)


O RPG (Role-Playing Game) é um jogo feito em grupos de em média de 4 a 6 pessoas, onde todos interpretam suas funções usando o máximo de imaginação na narrativa. Os atores dessa história são o mestre e os jogadores/players. Segundo Alfeu Marcatto, o RPG “é um exercício de diálogo, de decisão em grupo, de consenso” (MARCATTO, 1996, p. 16), pois somente pelo diálogo entre os participantes do jogo é que é possível construir a narrativa. A peça principal de um RPG é o mestre, onde suas funções são bem próximas às de um diretor e roteirista de um filme, pois ele define como a história será, escolhe quem irá participar, quem cada jogador irá representar, o contexto da história e suas vertentes, a identidade visual, entre outras funções.

Os jogos são únicos, porque mesmo que seja um RPG criado por outros, a cada nova sessão um mestre pode personalizar de uma maneira diferente. As regras servem como um controle na história, os jogadores possuem sua liberdade criativa durante as partidas, mas ainda precisam de um limite até onde irão. Temos regras citadas por Jane Maria Braga (2000) para a construção de um jogo:

 

1. É permitido quebrar as regras de qualquer exercício proposto aqui. 2. É permitido, quando a necessidade surgir, escrever em português “errado”, começar no meio, deixar seu trabalho inacabado etc. 3. É permitido escrever em colaboração com seu vizinho. 4. É permitido copiar o trabalho do vizinho. 5. É permitido ser bobo ou escrever coisas sem sentido. Não é preciso ser profundo ou literário. É permitido besteirol. 6. É permitido contar mentiras ou exagerar. 7. É permitido se dirigir às coisas, animais, flores, estranhos e a você mesmo. É permitido falar em nome deles. É permitido se dirigir a Deus. 8. É permitido ser um participante entusiasta (pessoal, subjetivo e sentimental) ou um observador distanciado (repórter objetivo). 9. É permitido se divertir (Braga, 2000, p.5).

 

O RPG surgiu na década de 1970 nos Estados Unidos e no Brasil chegou na década de 1990. Basicamente, era um grupo de jovens que se reuniam para se divertir, sem os aparatos da atual tecnologia, com os instrumentos que possuíam, tais como livros, blocos de anotações, dados, tabuleiros, lápis, canetas e sobretudo imaginação. Atualmente, com o avanço da tecnologia, é possível se reunir para jogar em páginas/aplicativos, cada um permanecendo em sua casa, possibilitando a criação de um universo inteiro dentro de uma tela, com tabuleiros, artes e dados (instrumentos de jogo) virtuais.

Com o passar dos anos, os jogos foram se reinventando, agora estando apenas a um clique de distância, deixando a experiência mais próxima do real. Jogos como Erica (2019) de Jack Attridge, Night Book (2021) de Alex Lightman e Duskwood (2019) de Jan Ewald e Kevin Scherer, são feitos em live action (um termo usado para definir adaptações de animações e desenhos para registros de pessoas reais). Além da identidade visual ser muito próxima à de filmes, há a correspondência com o gênero de filmes interativos como, por exemplo, Black Mirror: Bandersnatch (2018) de David Slade, que vem crescendo muito com o passar dos anos. Neles, o jogador é um personagem da narrativa e opções de escolhas são oferecidas ao longo da história, possibilitando ao usuário uma experiência personalizada.

Filmes misturando a vida real com a realidade virtual já são um indício que o universo dos games está presente em gêneros cinematográficos. A divisão entre jogos de RPG com filmes está ficando tênue, analisando comparativamente, verificamos os seguintes elementos comuns: escolha do jogador/espectador, divisão de grupos por perícia/habilidades, controle da liberdade de escolha em filme e RPG, fases definidas por desafios dos personagens/jogadores, intervalos na ação para recuperar energia ou conseguir informações, narração extra-diegética (ou heterodiegética), sistema conta-número de vidas do jogador/personagem, sistema de regras fixas para se seguir, história dos personagens figurantes/NPCs, esquema de combate como de jogos de RPG e inversão de papéis.

 

Referências
Braga, J. M. (2000). Aventurando pelos caminhos da leitura e escrita de jogadores de Role Playing Game (RPG). Juiz de Fora: UFJF, dissertação de mestrado.
Grant, B. K. (2012). Film genre reader IV. Austin: University of Texas.
McKee, R. (2006). Story: substancia, estrutura, estilo e os princípios da escrita de roteiro. Curitiba: Arte & Letra.
McLUHAN, M. (1964). Os meios de comunicação como extensões do homem (Understanding media). São Paulo: Cultrix.
Marcatto, A. (1996). Saindo do Quadro. São Paulo: A. Marcatto.
Mittell, J. (2004). Genre and television: from cop shows to cartoons in American culture. New York: Routledge.
Nogueira, L. (2010). Géneros Cinematográficos. Covilhã: Livros LabCom
Scaglioni, M.; Wagman, I. (2015). Introduction. Em: TV Genres in the Age of Abundance: Textual Complexity, Technological Change, Audience Practices. Comunicazioni sociali, Università Cattolica del Sacro Cuore, n. 2, 125-129.


 

 


Palavras-chave


RPG (Role-Playing Game); Narrativas Complexas; Cinema; Audiovisual;

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