A cobertura esportiva na televisão desenvolve sua identidade no ambiente audiovisual, marcada por características como a linguagem mais simples, coloquial e sentimentalista (Coelho, 2011), apresentação mais informal, narrativas focadas em personagens e atenção a temáticas que fogem ao factual, explorando aspectos extra-campos, conteúdos memorialísticos e recursos tecnológicos. Tais características evidenciam que o telejornalismo esportivo se apresenta como uma editoria híbrida, não restrita apenas a seu papel informativo ou de entretenimento, mas se configurando como um segmento de infotenimento (Dejavite, 2007; Padeiro, 2015).

Há, contudo, críticas de estudiosos do tema acerca do modelo de infotenimento, principalmente no que diz respeito à exaltação do entretenimento em detrimento da informação. Oselame (2010) aponta, como exemplo, a reestruturação do telejornalismo esportivo na Tv Globo, que deu origem ao que a autora denomina como “Padrão Globo de Jornalismo Esportivo”. Segundo Oselame (2010), esse novo modelo é marcado pela banalização da notícia, o descaso com as técnicas jornalísticas, a exacerbação do humor, a reinterpretação do conceito de criatividade, o empobrecimento do texto e a tendência a transformar o jornalista na notícia. Nesta nova lógica, a qualidade e a credibilidade do conteúdo são colocadas em segundo ou até mesmo terceiro plano, prezando pela forma e pelo divertimento.

O presente trabalho visa investigar, utilizando o método de Análise da Materialidade Audiovisual (Coutinho, 2016), como o telejornalismo esportivo atual tem explorado diferentes recursos em suas produções, a partir da observação do antigo programa do SporTV e agora quadro do Esporte Espetacular, da TV Globo, “Fala Muito!”. A partir de três eixos temáticos de análise, buscou-se observar como a informalidade se apresenta dentro deste quadro e como ela é utilizada a serviço da informação; quais são os elementos utilizados na construção do produto; e como e se, apesar da predominância das características ligadas ao entretenimento, o Fala Muito! reafirma seu lugar como um conteúdo também informativo.

Dentre os resultados observados, destaca-se que, apesar da informalidade de apresentação e linguagem já ser uma característica do telejornalismo esportivo, esse aspecto é utilizado de forma acentuada na construção do Fala Muito!. Notou-se também o diálogo estabelecido com outros meios, a partir da mescla na utilização de imagens e linguagens do cinema, da televisão e também de elementos próprios dos meios digitais, como as redes sociais. Levando em consideração que o entretenimento ocupou parcela significativa do quadro, percebeu-se ainda que o conteúdo informativo também estava presente, inclusive com algumas estratégias utilizadas para tentar garantir, mesmo que de forma subliminar, a credibilidade das informações contidas nas matérias.

Frente a um cenário em constante evolução e adaptação a novas tecnologias, meios digitais e convergência midiática, as formas de produção, circulação e consumo estão sempre se modificando (Jenkins, 2009), o que demanda ao jornalismo uma atualização quanto às diferentes formas de informar, para que este não deixe de cumprir seu papel de forma eficiente, levando em consideração os novos hábitos e interesses dos espectadores. Apesar das críticas ao infotenimento, pode-se dizer que esse modelo se apresenta como uma potente ferramenta de comunicação, permitindo diversas possibilidades e formas de narrar e transmitir um conteúdo de cunho informativo.

Referências:

Coelho, P. V. (2004). Jornalismo esportivo. Ed. Contexto.

Coutinho, I. (2016) O telejornalismo narrado nas pesquisas e a busca por cientificidade: A análise da materialidade audiovisual como método possível. [ Trabalho apresentado em congresso]. XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, São Paulo, Brasil. https://portalintercom.org.br/anais/nacional2016/resumos/R11-3118-1.pdf

Dejavite, F. A. (2007). A Notícia light e o jornalismo de infotenimento. [Trabalho apresentado em Congresso]. XXX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, Santos, Brasil. http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2007/resumos/r1472-1.pdf

Jenkins, H. (2009). Cultura da Convergência. Ed. Aleph.

Oselame, M. C. (2010). Padrão Globo de Jornalismo Esportivo. Seções do Imaginário, 2010, 24, 63-71. https://revistaseletronicas.pucrs.br/index.php/famecos/article/view/9026

Padeiro, C. H. S. (2015). O infotenimento aplicado ao jornalismo esportivo: entrevista com Fabia Dejavite.  Revista de Estudos de Gestão, Informação e Tecnologia, 2015, 1 (3). 9-18. http://www.revista.fatecitaqua.edu.br/index.php/regit/article/view/REGIT3-ENT/pdf_25