meistudies, 5º Congresso Internacional Media Ecology and Image Studies - A virtualização do novo ecossistema midiático

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A (des)atualização em tempo real na internet
Luciana Moherdaui

Última alteração: 2022-10-28

Resumo Expandido (Entre 450 e 700 palavras)


Este artigo pretende refletir a respeito de uma das mais importantes características do jornalismo praticado na internet: a atualização em tempo real em sites, portais e plataformas sociais.  Essa análise parte da releitura de dois autores considerados clássicos nesse campo da pesquisa: Mark Deuze e Nora Paul.

Deuze foi um dos primeiros a caracterizar e a discutir o jornalismo de internet. Em artigo escrito em parceria com Jo Bardoel para a Australian Journalism Review 23 (2001, p. 91-103), assim o apresentou: personalização, interatividade, hipertextualidade e multimidialidade, embora nem todas sejam exclusivas. Nos Estados Unidos, David Weinberger definiu o link como específico ne rede (2000). No Brasil, Marcos Palacios apontou a memória (1999).

Também foi Deuze quem incluiu o jornalismo de internet em fases de evolução. Em 2001, o texto Online Journalism: Modelling the first generation of the News media on the World Wide Web demarcou a primeira geração, entre 1993-2001. Na esteira dele, vieram outras sistematizações assinadas por John Pavlik (2000, 2001), Luciana Mielniczuk (2007), Pablo Boczkowski (2004) e Elias Machado (2006)[1].

A contribuição de Paul é igualmente imprescindível para compreender as práticas sistematizadas na internet. É da diretora do Centro de Jornalismo de Minnesota a reavaliação feita em 2005 sobre as promessas e as realidades do jornalismo apresentadas no seminário Novos Produtos, realizado pelo Poynter Institute em 1995.

Duas anotações importantes indicam a validade da hipótese levantada no título da proposta deste artigo - A (des)atualização em tempo real na internet - Algoritmos não são programados para o hardnews -:  1) “os textos publicados na rede seguem a lógica da edição do impresso”; 2) “A web (World Wide Web) se tornou um serviço de alerta de notícias”.

De fato, como pontuou Paul, ainda que seja possível elaborar estéticas próprias da internet, a maioria dos textos segue o que criticou Ted Nelson em 2001: “a web simula um paginador, com diagramação, hierarquia e colunas”. Também é verdade que “a web se tornou serviço de alerta de notícias”. Vinte e sete anos depois, esse sistema de alerta se amplificou por toda a rede, sobretudo em aplicativos de comunicação instantânea[2].

Ocorre, porém, que, a despeito de anos de sistematização e estudos para sistematizar o jornalismo na internet, uma de suas características saiu do esquadro. Quem acompanhou o surgimento da rede mundial de computadores (1969) e da web (1990) sabe que o tempo real é definidor da produção jornalística on-line. Exemplos de coberturas dessa natureza não faltam, a exemplo dos atentados às Torres Gêmeas, nos EUA, nos anos 2000[3].

Originada a partir dos critérios de noticiabilidade notabilizados pelas teorias que orientam o jornalismo, a atualização em tempo real em homepages, sites de versões de papel de jornais não publicados em PDF, como é o caso de The New York Times e Washington Post, não é mais a prioridade das edições. O mesmo procedimento é observado em plataformas sociais, em que as postagens são orientadas por algoritmos a partir de critérios de engajamento e relevância, não de hard news.

Esse raciocínio, por óbvio, não contempla as transmissões ao vivo, como as da guerra da Ucrânia e das audiências de 6 de janeiro de 2021, de NY Times e Post, respectivamente, que investigam a interferência do ex-presidente Donald Trump na invasão do Capitólio, em Washington (EUA). Portanto, a pertinência desse artigo se justifica em razão da inflexão nos critérios de publicação e da possibilidade de abrir um debate sobre revisão de práticas jornalísticas na internet e responder à seguinte questão: a atualização em tempo de sites e redes sociais real ficou obsoleta?

Referências

BARDOEL, J; DEUZE, M (2001). Networking Journalism- Converging competences ofold and new media professionals. Australian Journalism Review, Austrália (v. 23, n. 2,p. 91-103).https://bit.ly/3A5Sxb5.

BOCZKOWSKI. P (2004). Digitizing the news: innovation in online newspapers. MITPress.

DEUZE, M (2001). Online Journalism: Modelling the first generation of news media onthe word wide web. First Monday, Chicago (v. 6, n. 10). https://bit.ly/3BQpc5F.

MACHADO, E (2006). O jornalismo digital em base de dados. Calandra.

MOHERDAUI, L (2007). Guia de estilo web: produção e edição de notícias on-line.(3ª ed). Senac.

PALACIOS, M (1999). O que há de (realmente) novo no Jornalismo Online?[Conferência proferida por ocasião do concurso público para Professor Titular,Faculdade de Comunicação, Universidade Federal da Bahia].

PAVLIK (2000).Journalism tools for the digital age. [Conferência, 7° Fórum Mundialde Editores do Rio de Janeiro].

PAVLIK, J. V (2001). Journalism and new media. Columbia University Press.

WEINBERGER, D (2000). The hyperlinked metaphysics of the web. Hyperorg.http://bit.ly/zSrkus.

 

Palavras-chave: jornalismo, redes sociais, internet, periodicidade, algoritmo


[1] Para saber mais, ver: MOHERDAUI, L. Jornalismo sem manchete – A implosão da página estática (Senac: 2016).

[2] Para saber mais, ver: ID. Revisitando Nora Paul. In: +25 Perspectivas do Ciberjornalismo. Portugal: Ria Editorial, 2020, p. 114-133. Disponível em: https://bit.ly/371irfW. Acesso jul.2022.

[3] Para saber mais, ver: ID. Guia de Estilo Web – Produção e Edição de Notícias On-line (São Paulo: Senac, 2007).


Palavras-chave


Palavras-chave: jornalismo, redes sociais, internet, periodicidade, algoritmo

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