meistudies, 5º Congresso Internacional Media Ecology and Image Studies - A virtualização do novo ecossistema midiático

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“Meteu essa?”: Cooperação de Empresas Midiáticas e a Live do Casimiro
Antonio Hélio da Cunha Filho, Raquel Assunção Oliveira

Última alteração: 2022-10-24

Resumo Expandido (Entre 450 e 700 palavras)


As interações no ecossistema midiático são sintomáticas do recorte espaço-temporal no qual estão estabelecidas. Aliada a uma experiência multiplataforma, essa relação começa a delimitar uma interdependência comunicacional permitindo a retroalimentação de conteúdos e linguagens. Nesse sentindo, a refutação é vista como um ruído que possibilita câmaras de ecos (Jamieson & Cappela, 2010). Esses fatores transitam entre as várias faces da comunicação digital, permitindo a criação de uma teia densa que ajuda a suportar as estruturas midiático-capitalistas. Além de deflagrar um novo ecossistema, o cenário de capitalismo de plataformas (Figaro & Silva, 2020) demonstra uma nova estratégia que as alinha ao mercado financeiro. Se em algum momento os conteúdos e as personalidades, que estavam ligados à alguma empresa de mídia, eram restritos em sua circulação, atualmente o oposto acontece. A passagem por diversas plataformas permite uma ampliação dos ganhos digitais, e consequentemente o acúmulo de big data, aqui entendido como o grande volume de dados coletados pelas empresas de tecnologia que sustentam a dinâmica midiática e capitalistas no ambiente digital (Oracle, 2022). Esse novo controle por parte dessas grandes empresas, mostra um capitalismo multifacetado, que é entendido por Zuboff (2018, p. 34) como o momento no qual “as populações são as fontes das quais a extração de dados procede e os alvos finais das ações que esses dados produzem”. Nesse espaço, algumas linguagens e personalidades têm se tornado mais adaptáveis ao ambiente, especialmente as mais imediatistas, como as lives, que desmembram-se para outras redes, sob o nome de “cortes”. Srnicek (2018) classifica dentro desse novo modelo capitalista essa linguagem como Plataformas de Nuvens e de Serviços. Como no caso do youtuber e streamer Casimiro, que faz lives na plataforma Twitch e alimenta seu canal de cortes no YouTube. No dia 20 de janeiro de 2022, ele bateu o recorde nacional de público simultâneo numa live da plataforma, chegando a 515 mil (Exame, 2022). Na ocasião, assistia ao primeiro episódio da minissérie documental Neymar: o caos perfeito. Esse acontecimento é ilustrativo das dinâmicas midiáticas atuais, por isso, propomos um estudo de caso (Yin, 2001) para investigar as maneiras que o streamer Casimiro performa enquanto uma peça central para a manutenção das empresas midiáticas. Esse exemplo é emblemático, pois o Casimiro é contratado da Warner Media, faz as suas lives na Twitch (Amazon), e na ocasião assistia a uma obra da Netflix sobre um contratado do Facebook (Meta), produzindo conteúdo para o YouTube (Google). É perceptível que uma única ação beneficiou diversas empresas midiáticas. O sintoma do capitalismo mostra as grandes corporações se ajudando, estabelecendo o crescimento de poucos por muitos (dados, força de trabalho, pessoas), pois “é a estrutura que engendra os vícios e defeitos, e enquanto a estrutura permanecer, os vícios serão reproduzidos." (Fisher, 2020, p. 114). Além disso, esses eventos midiáticos mobilizam grupos específicos, uma fidelização sintomática de um comportamento contemporâneo. Casimiro chama seus seguidores de “nerdolas”, que nesse espaço, constela uma identidade marginal como um anti-fã, que “surge como forma política de resistência à cultura hegemônica midiática, por meio da cultura participativa” (Cunha Filho, Dantas & Santos, 2022). Para esse pertencimento, a noção de consumo é primordial para a construção da identidade. É a imposição capitalista que engendra essa noção de inadequação constante, gerando a busca incessante por um consumo (Campbell, 2006). Importante destacar a relação entre as lives e o horário, que geralmente acontecem durante a madrugada. Por isso, é possível pensar que elas refletem um “trabalho ininterrupto”, fruto de uma sociedade baseada na produtividade. Se não estão dando sua força de trabalho, os sujeitos consomem e agora disponibilizam dados durante a madrugada. Crary (2016) comenta sobre essa dinâmica: para ele, o ato de dormir é o único momento onde o indivíduo faz algo que somente o beneficia. Talvez esses estímulos dados pelas lives sejam uma espécie de “último roubo” do tempo ainda não vendido. Portanto, em um novo ecossistema midiático, as relações dos conglomerados de mídia podem começar a migrar para um híbrido de competição e cooperação, visando a manutenção do sistema capitalista e de seus líderes. O uso de atores midiáticos que transitam em diferentes linguagens são artifícios utilizados para serem ferramentas de engajamento e, consequentemente, crescimento de seus marcadores econômicos e simbólicos.


Referências:


Campbell, C. (2006). Eu compro, logo sei que existo: as bases metafísicas do consumo moderno. In Barbosa, L. & Campbell, C. (Org.). Cultura, consumo e identidade. Rio de Janeiro: FGV, p. 47-64.

Crary, J. (2016). 24/7: capitalismo tardio e os fins do sono. São Paulo: Ubu Editora.

Cunha Filho, A. H., Dantas, D. F., & Santos, S. M. M. (2022) O Shipping do Anti-Fã: celebridades, paródia e consumo Trash na Fanfiction do site Spirit. In: Mídia, Discurso e Sociedade: Problematizações Contemporâneas. São Carlos: Pedro & João Editores.

Figaro, R., & Silva, A. F. M. (2020). A comunicação como trabalho no Capitalismo de plataforma: O caso das mudanças no jornalismo. Contracampo, Niterói, v. 39, n. 1, p. 101-115, abr./jul.

Fisher, M. (2018). Realismo capitalista: é mais fácil imaginar o fim do mundo do que o fim do capitalismo?. São Paulo: Autonomia Literário.

Jamieson, K. H., & Cappella, J. N. (2010). Echo chamber: Rush Limbaugh and the conservative media establishment. Oxônia: Oxford University Press.

O que é Big Data? (2022, 18 junho). Oracle, Recuperado de https://www.oracle.com/br/big-data/what-is-big-data/#:~:text=Big%20data%20definido,-O%20que%20%C3%A9&text=A%20defini%C3%A7%C3%A3o%20de%20big%20data,de%20novas%20fontes%20de%20dados.

Recordista do entretenimento: Casimiro bate 545 mil espectadores na Twitch (2022, 18 junho) Exame, Recuperado de https://exame.com/tecnologia/recordista-do-entretenimento-casimiro-bate-545-mil-espectadores-na-twitch.

Srnicek, N. (2018). Capitalismo de plataformas. Buenos Aires: Caja Negra.

Yin, R. (2001). Estudo de caso: planejamento e métodos. Porto Alegre: Bookman.

Zuboff, S. (2018). Big Other: capitalismo de vigilância e perspectivas para uma civilização de informação. In Bruno, F. (org). Tecnopolíticas da vigilância: perspectivas da margem. São Paulo: Boitempo.


Palavras-chave


Capitalismo; Plataformas; Cibercultura; Streamer; Live

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