meistudies, 5º Congresso Internacional Media Ecology and Image Studies - A virtualização do novo ecossistema midiático

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(In)comunicação no Governo Bolsonaro: o que se diz versus como se age
Simone Teixeira Martins

Última alteração: 2022-10-24

Resumo Expandido (Entre 450 e 700 palavras)


As redes sociais configuram-se como um espaço onde se dá a interpretação da realidade. Ao fazer uso dessas, o atual presidente profere discursos, pronunciamentos, persuade seus seguidores, mantendo-os fiéis a seu governo. Tomando por base essa afirmação, este trabalho pretende analisar, por meio da Análise da Materialidade Audiovisual, o discurso proferido pelo ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub, ao informar que deixaria a gestão do MEC, em 18 de junho de 2020. Nossa intenção ainda é a de observar a resposta dada pelo presidente Jair Bolsonaro aos brasileiros logo após o pronunciamento de Weintraub. Nesse sentido, o objeto de análise é o embate discursivo promovido por ambos, assim como a postura adotada tanto pelo chefe do executivo quando pelo ex-gestor do MEC na gravação publicizada para verificar se os discursos expressos por ambos correspondem às suas ações ou se houve uma encenação para encobrir o real motivo da demissão.

Uma das características do governo Bolsonaro é fazer uso das redes sociais para se manifestar ou divagar. Seja para comunicar decisões, proferir discursos, juízos de valor, conselhos a seus seguidores, inventar soluções ou defender o indefensável, tudo é publicizado fora das mídias tradicionais, indo na contramão de como as informações deveriam ser repassadas aos cidadãos. Assim como o presidente da República, também seus ministros muitas vezes se utilizam de lives ou pronunciamentos em redes sociais para divulgar suas ações. Foi o que aconteceu em 18 de junho de 2020, quando o então ministro da Educação, Abraham Weintraub, decidiu pedir exoneração de seu cargo.

No sentido contrário da postura adotada pelo ex-ministro, assim como semanalmente professada pelo chefe do executivo em seus “aconselhamentos” nas redes sociais, Elizabeth Duarte Bastos (2004, p. 5), na apresentação do livro Seis lições sobre televisão, de François Jost, explica que a TV representa uma das únicas opções de informação e entretenimento para a maioria dos indivíduos brasileiros. Por esse motivo, entendemos que – ao se reportar para seus seguidores apenas por meio de lives ou discussões em redes sociais – Bolsonaro e seus ministros deixam de contemplar grande parte dos cidadãos, restringindo-se apenas àqueles que o seguem e, com isso, contribuem para a falta de uma comunicação eficaz.

Ademais, constantemente criam embates de narrativas com os veículos de comunicação tradicionais, utilizando-se de suas próprias convicções para se reportar aos brasileiros, questionando informações apuradas e divulgadas com comprometimento e ética pela imprensa. Nesse sentido, os seguidores do presidente Bolsonaro muitas vezes tomam por verdade as (des)informações repassadas por ele e por seus apoiadores, deixando de acreditar em informações apuradas com critério pela mídia, indo ao encontro da ponderação de Deuze (2013) de que vivemos em um “espaço de mídias em rede e interconectado” que nos sujeita cotidianamente “a intervenção, censura e alteração de todos os diferentes jeitos” (DEUZE, 2013, p. 120).

A mídia, e sobretudo o telejornalismo, ocupam papel relevante na interpretação do mundo. Contudo, importa destacar que novos atores foram acrescentados no exercício de observar e elaborar as narrativas da sociedade em que estamos imersos. Novas telas, dessa vez, manobradas pelo próprio público, configuram-se como mais um espaço para dar-se a interpretação da realidade. Nesse sentido, entendemos que foi a partir das “conversas” que manteve ao vivo com seus apoiadores e seguidores, e ainda das (des)informações repassadas a esses, com discursos imbuídos de juízos de valor, que Bolsonaro conseguiu conquistar sua própria audiência, fidelizar seu público e alcançar o posto de presidente da República.

Nosso objetivo neste trabalho, portanto, é o de analisar o pronunciamento do então ministro da Educação, Abraham Weintraub, na entrega de seu cargo para o presidente Jair Bolsonaro. Por meio da metodologia da Análise da Materialidade Audiovisual, pretendemos perceber a forma com que o discurso do ex-ministro se deu naquele espaço audiovisual, anteriormente ambientado em uma cumplicidade natural entre ambos mas transformado em artificialidade construída (e percebida).

Referências:

DEUZE, M. (2013). Viver como um zumbi na mídia (é o único meio de sobreviver).MATRIZes, ano 7, n. 2. https://www.revistas.usp.br/matrizes/article/view/69409.

DUARTE, E. B. (2004). À guisa de apresentação. In: JOST, F. Seis lições sobretelevisão. Porto Alegre: Sulina.


Palavras-chave


Governo Bolsonaro; Análise da Materialidade Audiovisual; Redes Sociais.

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