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As críticas de Yan Michalski no Jornal do Brasil e o diálogo com a experiência estética
Ana Paula Dessupoio Chaves, Daiana Sigiliano

Última alteração: 2022-10-31

Resumo Expandido (Entre 450 e 700 palavras)


Este artigo tem como objetivo analisar as críticas teatrais escritas por Yan Michalski que foram publicadas no Jornal do Brasil (1963-1982). Na referida época, os críticos contavam com a possibilidade de divulgação de até três artigos sucessivos sobre um mesmo espetáculo e artigos de cinco laudas em média cada um. Em algumas críticas, inclusive, havia a presença de fotografias. Mais do que um exercício de confrontação de ideias, de reflexão, entendemos a crítica como um dispositivo de disseminação de sentidos. Entendemos que, por mais racional e objetiva que se pretenda, a avaliação do crítico, está, de algum modo, relacionada à sensibilidade e a uma situação cultural e histórica determinada. Ao revisitar as críticas teatrais de Yan Michalski, aparecem questões para se entender a relação do jornalismo com o teatro, a política e a experiência.

A escolha por Yan Michalski não foi em vão. Após debruçar em seus escritos, o que inquieta são os pressupostos com os quais o crítico olhava as criações cênicas e a presença do grau de abertura com o qual ele se permitia acompanhar as transformações teatrais. Durante o período em que o projeto de crítica teatral moderna foi implementado, o teatro vinha de uma tradição, tinha uma evolução mais ou menos linear – os pontos de referência aos quais o crítico se reporta eram, portanto, conhecidos. Em virtude disso, a pergunta que temos feito é: quando há o novo, a ruptura, como o crítico trabalha, onde vai buscar seus pressupostos?

Em 1985, Michalski participou do Ciclo de palestras sobre o teatro brasileiro, organizado pelo Instituto Nacional de Artes Cênicas (INACEN). Em sua palestra, propõe uma reflexão sobre a trajetória nos vinte anos de regime autoritário, que ele registrara no exercício de suas atividades jornalísticas, dividindo-as em três fases significativas de determinadas tendências teatrais. Na primeira fase, de 1964 a 1968 (precisamente até o dia 13 de dezembro de 1968, data da promulgação do Ato Institucional n. 5 – AI 5), ocorreria um verdadeiro confronto entre o teatro e o regime político.

Na segunda fase, de 1969 a 1973, a ação da censura é levada ao extremo e “a liberdade do teatro é reduzida a um mínimo necessário para sobreviver”, não podendo contar com o apoio da imprensa. Surgiria, porém, nesta fase, uma geração de dramaturgos importantes que, manifestando-se em linguagem “metafórica”, consegue driblar a censura. A terceira fase, de 1974 a 1978, apontaria para “uma luz no final do túnel”, segundo o crítico, começando pela posse do Orlando Miranda na direção do SNT, em 1974, de acordo com o desejo unânime da classe teatral, aceito pelo então ministro da educação e cultura, Ney Braga (Michalski, 1984).

Neste contexto, iremos analisar as críticas publicadas no período da segunda fase. A justificativa do recorte temporal é que entendemos que esse período – devido aos movimentos contraculturais, a luta contra a censura, o surgimento de novos grupos teatrais e a experimentação de outras formas de linguagens na cena – foi permeado por latências (Gumbrecht, 2014) e instabilidades.

Por conta da complexidade dos dados, iremos analisar os conteúdos a partir do software Atlas.it. Conforme pontua Kelle (2002) o primeiro passo é a construção de um índice, isto é, um agrupamento de todas as passagens do texto que tenham algo comum. Após o agrupamento das recorrências, a partir da delimitação de códigos, iremos gerar uma rede semântica com o software que nos permitirá sistematizar as críticas (Hwang, 2008).

Esperemos que os resultados ressaltem que essa latência está relacionada com o entrelugar de uma crítica que já não seguia completamente o projeto moderno, pois o momento pedia outros tipos de presenças e necessidades na escrita. Em outras palavras, observa-se uma crítica que dialoga com as potencialidades do contemporâneo.

Referências:

Gumbrecht, H. U. (2014). Depois de 1945: latência como origem do presente. Unesp.

Hwang, S. (2008). Utilizing Qualitative Data Analysis Software: A Review of Atlas.ti. Social Science Computer Review. 26(4), 519-527.

Kelle, U. (2003). Análise com auxílio de computador: codificação e indexação. In M. Bauer; G. Gaskell (Eds.) Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som - um manual prático (pp. 393-415). Editora Vozes.

MichalskI, Y. (1986). Coleção: ciclo de palestras sobre o teatro brasileiro. INACEN.

 

 

 

 

APRESENTAÇÃO

 



Palavras-chave


Críticas teatrais; Yan Michalski; Experiência estética

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