meistudies, 5º Congresso Internacional Media Ecology and Image Studies - A virtualização do novo ecossistema midiático

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Os ataques do mandatário aos media enfraquecem a comunicação democrática
CANDIDA EMÍLIA BORGES LEMOS

Última alteração: 2022-10-17

Resumo Expandido (Entre 450 e 700 palavras)


Foram 129 discursos nos quais se tenta desacreditar e desqualificar os media, os profissionais e as informações por eles apresentadas, no decorrer do ano de 2021 no Brasil. Esses discursos foram proferidos pelo presidente da República, Jair Messias Bolsonaro. Os cenários escolhidos para os ataques aos media foram: diretamente nas redes sociais, sobretudo nas lives semanais do presidente veiculadas no YouTube e as breves postagens no Twitter (59 vezes, 46% do total); comunicados presenciais, como encontro na porta do Palácio do Planalto com apoiadores, que depois migram para as redes sociais e para a imprensa tradicional e convencional (16 vezes, 12% do total); eventos públicos, como inaugurações de obras governamentais, que também repercutem nas redes sociais e na imprensa tradicional (32 vezes, 30% do total); e declarações e entrevistas à imprensa tradicional, principalmente para os veículos alinhados ideologicamente ao presidente (22 vezes, 17% do total).

Esses ataques de Bolsonaro têm ocorrido desde que ele estava em campanha eleitoral em 2018, portanto, há uma continuidade em seus discursos. Como argumento, ele repete que a imprensa o persegue, porque ele cortou verbas publicitárias. “Na forma, repetiu expressões como “a mídia mente o tempo todo”, “a mídia é uma fábrica de fakenews” e “imprensa de merda”, avalia a Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj). A presidente da associação, Maria José Braga, assevera que  “mais uma vez alerta para o perigo do desrespeito aos princípios constitucionais da livre circulação da informação jornalística e do direito à informação”.

 

Neste sentido, há um esvaziamento acentuado do papel da imprensa, em seu sentido tradicional de integrante da esfera pública, que apresenta fatos e debate temas pertinentes ao contexto social e político. O presidente fala diretamente com seus públicos, sem a participação e mediação da imprensa. A imprensa tradicional, na maioria das vezes, apenas reproduz o que ele posta nas redes. Há um esvaziamento do debate publico promovido pelos meios de comunicação, uma vez que nestes comunicados públicos do presidente não se abre ao dissenso democrático, fundamental para a formação de opiniões livres e bem informadas.  Não há espaço para o contraditório. Além disso, não há entrevistas coletivas, conferências de imprensa, circunstâncias nas quais o debate e o questionamento teriam lugar privilegiado.

 

Cabe citar Habermas em seu livro Direito e democracia: entre facticidade e validade, em que ele percebe que quanto mais prejudicada a socialização do agir comunicativo, mais sufocados ficam os atores sociais, pois “mais fácil se torna formar uma massa de atores isolados entre si, fiscalizáveis e mobilizáveis plebiscitariamente” (Habermans, 1997, p. 102). Portanto, percebe-se que, sem o exercício de uma comunicação democrática, a sociedade se enfraquece e se desarticula perdendo, assim, a sua força de legitimação política.

Quais temáticas são abordadas nesses comunicados de Bolsonaro? Em quais contextos operam a encenação das falas? Qual o léxico escolhido por ele? Qual são as proposições e pressuposições presentes na estrutura de seu discurso? Quais as implicações desta fala no contexto dos media na atualidade? E a esfera pública, no conceito cunhado por Habermas, como é impactada, no sentido de esvaziamento do papel da imprensa na formação e informação de opiniões e de fatos ?  São perguntar norteadoras deste artigo.

Habermas, J. (1997). Direito e democracia: entre facticidade e validade, (F. Beno Siebeneichler, trad.). Vol.II .Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro (Obra original publicada em 1992).

 

Federação Nacional dos Jornalistas – FENAJ (2022). Violência contra jornalistas e liberdade de imprensa no Brasil - Relatório 2021. Brasília: Fenaj. Recuperado em 23 Junho, 2022, de  https://fenaj.org.br/relatorios-de-violencia-contra-jornalistas-e-liberdade-de-imprensa-no-brasil/

 

VAN DIJK, T. Poder e imprensa (2005). In: Van Dijk, T. Discurso, Notícia e Ideologia: estudos na Análise Crítica do Discurso. (Zara Pinto Coelho, Trad.). Porto: Campo das Letras.


Palavras-chave


Esfera Púbica; Jornalismo; Direito à informação

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