Última alteração: 2021-10-15
Resumo Expandido (Entre 450 e 700 palavras)
Introdução
O diretor não é a fonte única na construção de um filme, cineastas atuam dentro de instituições, estas por sua vez oferecem oportunidades assim como restrições, sejam tecnológicas, econômicas ou culturais. Há uma maneira de se fazer filmes dentro delas, saberes institucionalizados que encorajam e desencorajam os cineastas a tomar certas decisões. Tais práticas criam tradições cinematográficas, um repertório de esquemas narrativos e estilísticos à disposição dos diretores. Em Hollywood, desde os anos 60, um estilo que Bordwell (2006) chamou de Continuidade Intensificada se tornou a tradição dominante. A Continuidade Intensificada não realizou ruptura em relação ao período clássico, mas sim uma intensificação de certas técnicas que já eram usadas pelos cineastas, em detrimento de outras, criando um estilo dominante em todos os gêneros, mas reduzindo o repertório dos diretores. Quatro grandes dispositivos estilísticos moldam e dominam o estilo da Continuidade Intensificada: edição rápida, uso bipolar de lentes de distância focal extrema, planos com enquadramentos próximos e constante movimento da câmera. Enquanto essas técnicas dominam, outras caíram em desuso como planos longos com a câmera fixa, planos compostos sustentados, frequentes enquadramentos de longa e média distância, e imagens filmadas com lentes de 50mm. Para Bordwell (2008) um cinema cada vez mais distante da mise-en-scène, menos informação a cada plano, mais forçado para atingir emocionalmente o público.
Objetivo
O presente artigo busca analisar como o diretor Quentin Tarantino, um diretor autoral que começou a carreira dentro das práticas de produção do cinema independente, atua dentro do modo de produção de grande orçamento de Hollywood, se ele consegue estabelecer um estilo próprio ou apenas reproduz o estilo dominante, para isso, analisamos o filme Era uma vez em Hollywood que possui orçamento de US $90 milhões.
Metodologia
Para essa análise comparativa entre o estilo de Tarantino e o da Continuidade Intensificada, decidimos por duas cenas de diálogo de Era Uma Vez em Hollywood, cada uma protagonizada por um personagem diferente, para identificar as diferentes estratégias utilizadas pelo diretor. Bordwell (2006) argumenta que apesar de todo o espectáculo de Hollywood, com cenas de ação e efeitos especiais, as cenas de diálogo ainda são o tipo mais comum de cena em um filme de Hollywood, e o que preocupa o autor é que as técnicas de ênfase da continuidade intensificada são tanto aplicadas em grandes cenas de ação, como em simples cenas de diálogo.
Resultados/discussão
A análise mostrou que Tarantino mantém um estilo próprio e articula elementos diversos na construção de suas cenas, e não segue o estilo dominante atual, a Continuidade Intensificada, que possui recursos mais escassos. O filme traz técnicas que caíram em desuso em Hollywood, bem como técnicas que o estilo atual e dominante faz uso. Tarantino não limita a sua paleta de escolhas a uma determinada tradição. As suas escolhas partem de um instinto autoral. Quanto às técnicas da Continuidade Intensificada que Tarantino faz uso, como o close up e o track in, ele as articula em momentos específicos, às vezes com usos únicos, e não como modo padrão para todas as cenas, que é o principal receio de Bordwell em relação ao estilo atual, uma perda do uso criativo da mise-en-scène.
Palavras-Chave: Quentin Tarantino; Estilo fílmico; Continuidade intensificada.
Referências bibliográficas
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BORDWELL, David. Figuras Traçadas na Luz.Campinas-SP:Papirus,2008.
BORDWELL, David. The way hollywood tells it:Story and style in modern movies.Los Angeles:University of California Press,2006.