Última alteração: 2021-10-21
Resumo Expandido (Entre 450 e 700 palavras)
Introdução
A inclusão de pessoas com deficiência é um debate que permanece um tanto invisibilizado quando o tema é diversidade e igualdade. Sassaki (2009, p. 10) define inclusão como “o processo pelo qual os sistemas sociais comuns são tornados adequados para toda a diversidade humana”. Diante disso, destaca-se a necessidade do desenvolvimento de Tecnologias Assistivas como enfrentamento das barreiras existentes.
Uma iniciativa que busca este enfrentamento é o projeto de extensão Biblioteca Falada (BF), da Faculdade de Arquitetura, Artes, Comunicação e Design (FAAC) da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp), de Bauru/SP. O projeto promove acessibilidade, inclusão e cidadania das pessoas com deficiência visual em parceria ao Lar Escola Santa Luzia para Cegos (LESL), e outras instituições, a partir da produção de mídia sonora acessível e audiodescrição.
Considerando que o rádio é um meio bastante consumido por pessoas com deficiência visual e um espaço importante na busca por informação, cultura, educação e entretenimento (Godoy, 2003), os alunos do LESL, em 2019, demonstraram interesse em conhecer emissoras de rádio, sua estrutura e funcionamento.
Assim, o BF organizou uma visita guiada à Rádio Unesp FM, localizada no câmpus da Unesp, no dia 11 de outubro de 2019, com o objetivo de atender a essa demanda. Para tal, os integrantes do projeto preparam a visita, bem como uma sistemática própria que permitisse a audiodescrição ao vivo.
Percurso Metodológico
O primeiro passo consistiu do contato com os alunos do LESL para levantamento dos pontos de interesse, e posteriormente, a construção dos roteiros para orientar a audiodescrição simultânea. Por ser a audiodescrição um processo complexo de tradução intersemiótica (visual para o verbal) (Motta & Romeu Filho, 2010), foram realizadas visitas técnicas à Rádio para que os integrantes do projeto pudessem realizar um levantamento de informações. Nelas, foram tiradas fotografias e feitas anotações das características dos espaços, como formatos e medidas aproximadas.
Com essas informações, os roteiros que guiaram a audiodescrição simultânea foram escritos de acordo com normas e parâmetros estabelecidos em diversas publicações (ABNT NBR-16452, 2016; Alves & Teles, 2017; Motta & Romeu Filho, 2010; Naves et al., 2016). Definiu-se também que tais roteiros seriam utilizados como base, como recomendado para AD ao vivo, mas, no momento da visita, adaptações poderiam e deveriam ser feitas.
Resultados e Discussões
A visita guiada durou cerca de duas horas e participaram sete alunos e uma monitora do LESL, além de sete integrantes do BF e um representante da Unesp FM. Primeiramente, os membros do projeto e o representante da rádio se descreveram. Em seguida, foram descritos o estacionamento e o prédio da Rádio, e seguiu-se o percurso: sala do memorial, discoteca, estúdio 1, estúdio 2 e sala de jornalismo. Cada um dos visitantes teve um guia próprio, de forma que foi possível a audiodescrição de informações não previstas no roteiro. Ao fim do percurso, todos os envolvidos deram suas impressões. Os visitantes também puderam conhecer um radialista do qual eram fãs, escutando sua voz ao vivo e também a audiodescrição simultânea de seus atributos físicos.
A experiência evidenciou o interesse dos alunos do LESL em conhecer outros espaços de Bauru, como prédios públicos, praças e shoppings, do mesmo modo que conheceram a Rádio. Com isso, a visita guiada foi a motivação para que o BF iniciasse um projeto de acessibilização de informações sobre locais em Bauru. Desde então, vem sendo desenvolvido o “Siga - Guia Acessível da Cidade”, um aplicativo de geolocalização, somado a arquivos de áudio com informações gerais e audiodescrição de espaços públicos e privados.
Considerações finais
A atividade realizada demonstra que a inclusão plena de pessoas com deficiência ainda é um desafio. No entanto, o uso de tecnologias assistivas em iniciativas como essa possibilitam que pessoas acessem e interajam, a partir da comunicação acessível, com espaços. Além disso, com a visita, os alunos do LESL solicitaram que mais localidades de Bauru fossem acessíveis, suscitando no desenvolvimento do aplicativo “Siga”.
Embora desafiadora e com uma abordagem teórico-metodológica em desenvolvimento (Alves & Teles, 2017), a elaboração de pré-roteiros para a Audiodescrição ao vivo e/ou simultânea possibilita uma experiência de visita guiada mais proveitosa e rica em detalhes. Também foram possíveis reflexões acerca da relação de proximidade entre o público com deficiência visual e o rádio.
Referências
Alves, S. F. & Teles, V. C. (2017). Audiodescrição Simultânea: propostas metodológicas e práticas. Trab. linguist. apl., Campinas, v. 56, n. 2, p. 417-441, ago. 2017. Recuperado dehttp://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-18132017000200006&lng=pt&nrm=iso
Godoy, E. R. (2003). Rádio, um companheiro do cego. In: Anais do 26º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, Belo Horizonte. São Paulo: Intercom. Recuperado dehttp://www.portcom.intercom.org.br/pdfs/59259098082741619808967963251888726262.pdf
Motta, L. M. V. M. & Romeu Filho, P. (Org.) (2010). Audiodescrição: transformando imagens em palavras. São Paulo: Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Estado de São Paulo.
Naves, S. B. et al. (2016). Guia para produções audiovisuais acessíveis. Brasília: Secretaria do Audiovisual/ Ministério da Cultura.
Sassaki, R. K. (2009). Inclusão: acessibilidade no lazer, trabalho e educação. Revista Nacional de Reabilitação, São Paulo, Ano XII, mar./abr., p. 10-16.