Última alteração: 2021-10-18
Resumo Expandido (Entre 450 e 700 palavras)
No contexto contemporâneo, a exploração de conteúdos imagéticos digitais configura-se como uma tendência absoluta, sendo estratégia narrativa de preferência em grande parte das histórias contadas pelos meios de comunicação, sobretudo, em postagens de seus perfis de redes sociais virtuais, escolha que parece buscar acompanhar os anseios de um público cada vez mais conectado, participativo, exigente e multitarefa, que é consumidor e produtor assíduo de imagens.
Diante do universo de produções imagéticas ofertado nas numerosas páginas da web, as quais, muitas vezes, abrigam conteúdos repetidos e carentes em termos de processo criativo, que acabam se perdendo dos olhares dos usuários em meio ao fluxo acelerado dos espaços de interação virtuais, torna-se necessário criar táticas narrativas capazes de atrair a atenção do público. Nessa jornada desafiadora, pode-se apontar iniciativas da área do jornalismo digital que visam trazer as pessoas para mais perto dos fatos noticiosos a partir do desenvolvimento de interfaces interativas e imersivas, apoiando-se, assim, na inovação como diferencial competitivo, a exemplo do uso das imagens em 360 graus, modalidade inovadora que tem sido observada em documentários, reportagens, aplicativos móveis, entre outros. Trata-se de um tipo de produção que favorece a imersão do público, uma vez que quebra a lógica retangular característica da imagem tradicional, podendo despertar no usuário a sensação de estar em outro lugar, mergulhando, mesmo que virtualmente, em outra realidade.
Na esteira dessas considerações, que demonstram a importância da imagem nos conteúdos noticiosos atuais, o conceito de pós-fotorreportagem proposto por Renó (2020) parece oportuno e pode auxiliar a compreender essa nova forma de contar histórias no contexto digital, em que a reportagem jornalística é constituída predominantemente por produções imagéticas, sejam fotos, vídeos, infográficos e/ou cartografias interativas, enquanto o texto desempenha papel coadjuvante, o de costurar as imagens, complementando-as. Assim, com base nos pressupostos dessa recente definição e de modo a ampliar e fortalecer o debate que a envolve, o presente artigo busca apresentar reflexões sobre o projeto “Bondi-to-Manly: Sydney’s spectacular harbour walk”, divulgado pelo Guardian Australia em 13 de junho de 2019, cuja estrutura complexa reúne diferentes imagens – inclusive em 360 graus – e valoriza uma articulação multimídia. Para tanto, com o alicerce de um breve levantamento bibliográfico pautado em discussões como pós-fotografia (Fontcuberta, 2016), fotorreportagem (Cartier-Bresson, 2015), narrativas complexas (Longhi, 2020; Català, 2016), interface (Scolari, 2018), imagens em 360 graus (Català Domènech, 2011; Falandes, 2020) e cultura snack (Scolari, 2019), realizou-se um estudo de caso descritivo da produção escolhida, percurso metodológico adotado por Renó (2020) quando dos pensamentos e avaliações iniciais referentes à ideia de pós-fotorreportagem. Também, deve-se acrescentar a elaboração de um protocolo de análise, formado por um conjunto de categorias para guiar a coleta de informações, a exemplo de formato, trilha sonora e transmidialidade.
Dentre os principais resultados, apurou-se que a obra analisada apresenta características de uma pós-fotorreportagem complexa, tanto pelo arranjo multimídia que propõe, com imagens – fotos e vídeos – integrando sistemas de navegação interativos e sendo costurados por textos breves e hiperlinks, como por explorar a modalidade 360 graus, apoiando-se na técnica de hyperlapse, que pode ser percebida como uma nova poética da fotografia em movimento, com significativo potencial narrativo. Também, por envolver conteúdos em múltiplas plataformas – site e redes sociais virtuais – o projeto pode ser pensado como uma narrativa transmídia.
Ainda, ao utilizar o hyperlapse 360 graus como vídeo de divulgação que resume em 5 minutos e 35 segundos a experiência principal da reportagem, que contém 14 horas de imagens no total, percebe-se uma preocupação em atender diferentes ritmos de consumo imagético. Assim, pode-se acessar o vídeo interativo com imagens tradicionais, o que exige dispor do tempo real para sua visualização integral, ou assistir a produção audiovisual 360 graus (hyperlapse), obra breve que reflete a lógica midiática contemporânea de uma cultura snack (Scolari, 2019).
Como conclusões, acredita-se que o recurso hyperlapse 360 é mais um que se une ao leque de possibilidades hoje disponíveis em torno das narrativas em 360 graus, como little planet (Claremont, 2019), cinematic VR e interactive VR (Tricart, 2018), caminhos para se pensar em uma possível consolidação de linguagem.