meistudies, 4º Congresso Internacional Media Ecology and Image Studies - Reflexões sobre o ecossistema midiático pós pandemia

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Gerações conectadas pelo ecossistema tecnológico de comunicação: as novas dimensões da literacia.
Tiago Luís Rigo

Última alteração: 2021-10-19

Resumo Expandido (Entre 450 e 700 palavras)


Ao observar as últimas duas décadas, sob a lente das transformações evidenciadas no ecossistema tecnológico de comunicação, percebe-se um período que implica marcas culturais e sociais relevantes nas gerações, sobretudo nos jovens, que passam a dominar determinados conhecimentos e, em alguma medida, também educam as gerações mais velhas. A geração nascida a partir dos anos 2000 pode ser definida como a primeira totalmente ubíqua, com amplo acesso à tecnologia, conectividade e mobilidade. As janelas de acesso foram ampliadas e esse contexto não é exclusivo deste grupo. A forma como a sociedade consome e se relaciona com a mídia mudou. A materialização deste fenômeno, segundo Martín-Barbero (1997), está na relação dos indivíduos com as novas tecnologias e pelos graus de interatividade que permitem as trocas simbólicas.

 

Diante deste ecossistema, destaca-se a Geração Z, que representa 40,1 milhões de crianças nascidas entre janeiro de 1998 a dezembro de 2009, define Tapscott (1999). Os jovens da Geração Z, nasceram em um contexto no qual a tecnologia digital já estava disponível, formando o primeiro grupo com a possibilidade de acesso à banda larga em suas casas desde a infância e, ainda, de conviver com smartphones no seu período de alfabetização. Segundo Prensky (2001), essa geração pode ser denominada como os “nativos digitais”, enquanto os “imigrantes digitais”, são aqueles que se adaptaram às inovações, entre eles, os seus pais, integrantes da Geração Y.

 

Portanto, refletir sobre as relações com a tecnologia de diferentes gerações implica em analisar a influência de um sobre o outro e como são educados para tal. As configurações familiares mudaram e foi amplificada a inversão de papéis. Os filhos passaram a dominar conteúdos tanto quanto ou mais do que os pais. O uso de tecnologia segue a mesma tendência, sendo os filhos nascidos nesse ecossistema, com maior naturalidade no uso e apropriações. Esse novo ator social está ensinando gerações mais novas, como seus pais e avós, a se comportarem diante da tecnologia.

 

Em estudo realizado por Rigo (2020), foi possível identificar esse contexto de novas configurações familiares e práticas de literacia. No viés do mais jovem educar o mais velho, identificou-se uma neta que passa a maior parte do tempo com a avó, pois a mãe trabalha durante todo o dia. Nesse período, a jovem ensinou a sua avó a usar smartphone e ajudou-a a criar um perfil no Tinder, aplicativo para relacionamentos. Em outro caso, uma mãe identificou a necessidade de educar a sua filha a comportar-se durante videochamadas, pois a jovem costumava tomar banho enquanto conversava com suas amigas pela tela do celular. Durante a pandemia, esses cuidados foram amplificados, pois o tempo de conexão com os dispositivos tornou-se ainda maior.

 

Constata-se, portanto, que crianças e jovens possuem habilidades técnicas diferentes dos seus pais, mas ainda estão em fase de desenvolvimento e não totalmente preparados para o contexto digital (BUCKINGHAM, 2007). Sendo assim, os pais que dominam a técnica tendem a ser mais confiantes na mediação dos filhos (LIVINGSTONE, 2015) e precisam ir além dos ensinamentos tradicionais. Não basta ensinar a usar a Internet, é preciso um conjunto de conhecimentos que preparem o sujeito para efetivamente ser atuante, crítico e protagonista (LIVINGSTONE, 2011).

 

Ao conectar diferentes gerações, por meio dos dispositivos tecnológicos, torna-se necessário ir além do entendimento simplista de que jovens sabem usar a Internet. Deve-se compreender de que conhecimento está se tratando e como é aplicado no dia a dia. Assim, Livingstone (2011) aponta a necessidade de uma discussão ampla sobre literacia, principalmente numa dimensão crítica. Em tempos pandêmicos, de aumento no consumo de mídia e famílias convivendo mais próximas em virtude do isolamento, essas dimensões ganharam maior ênfase. Pais e filhos em casa, estudando e trabalhando simultaneamente, precisaram aprender a conviver e a usar dispositivos e ferramentas. A literacia ganhou um contexto inédito a ser considerado nos estudos de comunicação

 

 

Referências

Buckingham, David. Crescer na era das mídias eletrônicas. Tradução de Gilka Girardello e Isabel Orofino. São Paulo: Edições Loyola, 2007.

Castelss, Manuel. A galáxia da internet: reflexões sobre a internet, os negócios e a sociedade. Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Zahar, 2003.

Livingstone, Sonia. How parents of young children manage digital devices at home: the role of income, education and parental style. Londres: EU Kids On-line, 2015.

Livingstone, Sonia. Internet literacy: a negociação dos jovens com as novas oportunidades on-line. Matrizes, ano 4, n. 2, 2011.

Martín-Barbero, Jesus. Dos meios às mediações. Comunicação, cultura e hegemonia. Rio de Janeiro, Editora UFRJ, 1997

Martín-Barbero. Jóvenes. Entre el palimpsesto y el hipertexto. Barcelona: Nuevos Emprendimientos Editoriales, 2017.

RIGO, Tiago. Famílias conectadas: um estudo do consumo de tecnologia das gerações Y e Z em Porto Alegre. Dissertação (Mestrado em Comunicação Social) - Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, p. 180. 2020.


Palavras-chave


Comunicação; gerações; literacia; tecnologia; mídia

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