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Articulações teóricas e práticas entre Midiativismo e Comunicação Popular e Comunitária
Gabriel Pansardi Ruiz, Alana Nogueira Volpato

Última alteração: 2020-11-16

Resumo Expandido (Entre 450 e 700 palavras)


Este artigo pretende refletir sobre as relações entre a comunicação popular e comunitária e o midiativismo a partir da experiência de oficinas de comunicação desenvolvidas na ocupação urbana Flores do Campo (FDC), na cidade de Londrina/PR. Para isso, apresentamos conceitos das duas modalidades buscando descrever suas características, diferenças e pontos em comum para, a partir do relato da prática, evidenciar suas possibilidades de complementação e articulação.

Embora seja comum atribuir sinônimos como, por exemplo, “alternativa”, “popular”, ou “independente” para substituir o termo “comunitária”, a fim de evitar repetições textuais, compartilhamos da posição defendida por Miani (2011), para quem essa substituição se mostra como uma simplificação a ser descartada, por desconsiderar as reais contribuições da comunicação comunitária no âmbito das classes populares e, mesmo, de seu potencial enquanto forma de fazer alternativa à hegemônica, construída no campo da comunicação (Miani, 2011; Paiva, 2007).

Entendemos que a comunicação popular e comunitária é aquela praticada por e para grupos subalternos, por meio de processos que permitam a participação aberta em diferentes momentos da elaboração de produtos comunicativos, que assumem formatos variados, e tratem dos interesses comuns de uma dada comunidade. Por meio da identificação de pautas, discussão sobre problemas enfrentados na realidade compartilhada por essa coletividade, da circulação e recepção dos materiais produzidos, a comunicação popular e comunitária contribui para a construção de relações sociais diferentes das experimentadas em outros âmbitos da vida, gerando sentimento de pertencimento (Peruzzo, 2011; Miani, 2011).

O midiativismo, por sua vez, reflete a apropriação dos recursos midiáticos, sobretudo digitais, nas interações sociais que permeiam protestos e manifestações em espaços públicos, por meio de transmissões ao vivo, utilização de sites de redes sociais por ativistas para organizar, mobilizar e difundir conteúdo (Bentes, 2015). É pautado, também, por uma estética e linguagem próprias, desenhadas no terreno da midiatização de caráter digital, em que o midiativista está inserido nos eventos de protesto, agindo diretamente com o objetivo de “amplificar conhecimento, espraiar informação, marcar presença, empreender resistência e estabelecer estruturas de defesa” (Braighi & Câmara, 2018, p. 36).

Assim como os pressupostos da comunicação popular e comunitária versam sobre uma prática comunicacional que proporciona possibilidades de ruptura do monopólio midiático para movimentos sociais, associações, grupos minoritários, igualmente os midiativistas, “[...] vêm realizando um papel de posicionamento ao lado de setores da sociedade que têm menos espaço para projeção argumentativa, oportunizando condições para que os seus pontos de vista possam repercutir” (Braighi & Câmara, 2018, p. 36-37).

Por meio da análise das oficinas de comunicação desenvolvidas, bem como do episódio de ocupação da Prefeitura de Londrina pelos moradores do FDC, exploramos as aproximações e distinções das duas abordagens, evidenciando sua complementaridade, de modo que a soma de suas qualidades pode fortalecer o processo comunicativo em busca da cidadania, valorizando as vozes e a participação dos moradores, não apenas para contrapor o enfoque da dado na cobertura dos veículos locais, mas por propiciar outras percepções e narrativas acerca do FDC.

Referências

Bentes, I. (2015). Mídia-Multidão: estéticas da comunicação e biopolíticas. Rio de Janeiro: Mauad X.

Braighi, A. A. & Câmara, M. T. (2018) O que é Midiativismo? Uma proposta conceitual. In Braighi, A., LESSA, Cláudio & Câmara, M. T. (Orgs.). Interfaces do Midiativismo: do conceito à prática. CEFET-MG: Belo Horizonte. (pp. 25-42).

Miani, R. (2011). Os pressupostos teóricos da comunicação e sua condição de alternativa política ao monopólio midiático. Intexto, Porto Alegre, UFRGS, 2(25), 221-233.

Paiva, R. (2007). Para reinterpretar a comunicação comunitária. In: PAIVA, R (Org.). O retorno da comunidade: os novos caminhos do social. Rio de Janeiro: Mauad X, 2007.

Peruzzo, C M. K. (2011). Desafios da Comunicação Popular e Comunitária na Cibercultur@: Aproximação à proposta de Comunidade Emergente de Conhecimento Local. Ciberlegenda, 2(25).


Palavras-chave


Comunicação Popular e Comunitária; Midiativismo; Flores do Campo;

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